Venda de motos acelera 14%, e consumidores enfrentam fila de espera

Crescimento na demanda imposto pela alta do combustível em 2022 veio com alta de 23% no preço.

Por: Simon Nascimento.

Na tentativa de diminuir os custos com combustíveis, o uso de motocicletas e bicicletas tem ganhado a rotina de muitos brasileiros. Dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) apontam que a venda de motos, no primeiro bimestre deste ano, cresceu 14% no Brasil, se comparado a janeiro e fevereiro de 2021. 

Apesar da alta nos negócios fechados, quem deseja adquirir o bem está pagando até 23% mais caro, além de aguardar por até quatro meses nas filas de espera das concessionárias de Belo Horizonte e região metropolitana para retirar as motos. Isso ocorre devido a problemas enfrentados por montadoras na aquisição de chips e demais insumos que integram a produção no mercado externo, as revendas estão com os estoques de pronta-entrega praticamente zerados. 

Na concessionária Minas Motos, que faz a venda da linha Honda, o faturamento cresceu 25% neste ano. O gerente comercial  Ângelo Mendes, que atua com vendas há 22 anos, afirma que o setor de motos vive o melhor momento. “A gente vem em um crescimento desde meados de março. Hoje não tenho nenhuma moto em pronta-entrega e isso é uma característica de BH, do estado e do Brasil em todas as concessionária”, revelou. 

Ele relata que a campeã de vendas é o modelo CG Fan 160. O modelo, conforme o gerente, é o mais comprado para quem vai usar a moto a trabalho, como entregadores em plataformas de delivery, e em deslocamentos diários. “Cada vez que a gasolina aumenta a gente observa um novo público enxergando a moto como possibilidade. Hoje com a moto você gasta um terço do que gastaria em combustível com o carro”, frisa. 

Ângelo relata que os reajustes de preços que antes ocorriam 2 vezes por ano, chegam a acontecer quase que bimestralmente agora. “Os suprimentos eletrônicos e todos os componentes da motocicletas ficaram mais caros”, explica. O motoboy Donizeti Ferreira, de 24 anos, observou o crescimento. Em 2019, ele comprou uma Honda CG Titan por cerca de R$13 mil. “Eu uso ela para o meu sustento, trabalhando em aplicativos. Mas o preço da moto está lá em cima, paguei quase R$15 mil”, relata. 

Em lojas de revenda da Suzuki, o problema também é notado, com tempo de espera podendo chegar a dois meses, além de preços mais elevados. “Nem estoque tem. E como a gente não tem previsão de chegada e de preços, não trabalhamos com fila de espera para não gerar insatisfação ao assumir compromisso com clientes”, afirma Vinicius Amaral, proprietário de rede de lojas de bicicletas e de concessionárias de motos.

Gasolina é vilã

O economista-chefe da Fecomércio Minas, Guilherme Almeida, diz que o uso de motos é saudável para a saúde financeira das famílias em um momento de pressão inflacionária sobre combustíveis. “Só em 2021, um terço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo foi correspondente à gasolina. Teve um peso relevante na variação de preços em 2021 e continua neste ano”, afirma. 

Almeida ainda explicou que a dificuldade na fabricação de motocicletas tem relação com o conflito entre Rússia e Ucrânia e com os impactos da pandemia na China, de onde vem a maior parte dos insumos importados. “Ainda que o bem consumido, comercializado no brasil não seja importado, o insumo utilizado no processo produtivo é importado do país chinês. Então temos um impacto decorrente desse choque de oferta que é esperado até o fim do primeiro semestre”, ressalta.

Bicicletas têm maior produção desde 2013 

De acordo com a Abraciclo, a produção de bicicletas em Manaus teve o melhor resultado no primeiro bimestre deste ano, desde 2013. Foram 125.149 bikes produzidas. O recorde até então havia sido observado há nove anos, com 127.028 unidades saindo das linhas de montagem. Mas apesar dos bons índices de fabricação, as lojas em BH relatam queda nas vendas. Na Dé Bikes, em Venda Nova, o movimento foi intenso durante as fases agudas da pandemia, mas se normalizou no segundo semestre do ano passado. 

Na BH Bike Store, a intensidade de vendas também se estabilizou. A preocupação do proprietário, Vinicius Amaral, é com a dificuldade de repor estoques devido aos problemas enfrentados por fabricantes. “Ano passado não teve mercadoria. O mercado está aquecido, mas o problema é só o produto. Nós estamos com pedidos com previsões de receber bicicletas em maio de 2023”, conta. 

O vice-presidente do segmento de bicicletas da Abraciclo, Cyro Gazola, reconhece o problema e garante que estudos sobre a cadeia logística são feitos para minimizar a falta de insumos. “Com essa estratégia, estamos retomando a capacidade de produção das fábricas e, aos poucos, vamos equilibrar a oferta e demanda por bicicletas.”

Economia e bem-estar 

Com o atual preço médio do litro da gasolina em Belo Horizonte, de R$7,52, de acordo com pesquisa do Mercado Mineiro, o motorista que tem um carro de modelo popular com tanque de 48 litros paga em torno de R$361 para o abastecimento de todo o recipiente. O gasto, no entanto, não é uma realidade na vida do psicólogo Henrique Cardoso Nunes, de 37 anos. Ciclista desde a infância, ele uniu o gosto pelo pedal à prática de exercício físico e necessidade de economia. 

“Eu não ando de bicicleta só pela questão econômica, mas acaba que influencia sim”, conta. Ele mora no bairro João Pinheiro, na Região Noroeste, e trabalha no Nova Granada, Oeste da capital. O trajeto que hoje faz de bicicleta, sem custos, custaria um tanque de combustível ao mês, ou R$45 semanais com passagens. De acordo com o economista-chefe da Fecomércio, Guilherme Almeida, o planejamento pode ajudar na tomada de decisões para trocar o modal de transportes. 

Ele aconselha que as pessoas com desejo de trocar o carro ou o ônibus por motos e bicicletas tenham uma reserva para conseguir barganhar bons preços no mercado. “Se a utilização desse bem é urgente, um financiamento direcionado para a aquisição pode ser ideal, com linhas de crédito mais baratas”, opina.

Transporte em Duas Rodas 

Com o atual preço médio do litro da gasolina em Belo Horizonte, de R$7,52, de acordo com pesquisa do Mercado Mineiro, o motorista que tem um carro de modelo popular com tanque de 48 litros paga em torno de R$361 para o abastecimento de todo o recipiente. O gasto, no entanto, não é uma realidade na vida do psicólogo Henrique Cardoso Nunes, de 37 anos. Ciclista desde a infância, ele uniu o gosto pelo pedal à prática de exercício físico e necessidade de economia. 

Frota nacional de motos: 24.732.701 
Frota de motos em Minas: 2.764.247
Frota de motos em BH: 250.857 

Vendas de motos no Brasil em 2022 (jan e fev): 163.693 unidades
Produção estimada de motos no Brasil em 2022: 1,3 milhão 
Produção estimada de bicicletas no Brasil em 2022: 880 mil

Fontes: Denatran e Abraciclo


Foto: Flávio Tavares
Fonte: https://www.otempo.com.br/economia/venda-de-motos-acelera-14-e-consumidores-enfrentam-fila-de-espera-1.2647031#

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