Pneu remoldado em moto: pode ou não pode?

Não, e inclusive é proibido por lei. E muito menos pneu frisado. Conheça aqui os riscos que trazem para a segurança.

Por: Roberto Dutra.

Chegou a hora de trocar o pneu da moto e o caro leitor se deparou com valores bem acima dos esperados. Sim, os preços dos pneus subiram – assim como tudo – e estão bem superiores aos vistos na última troca. Nessas horas alguns desavisados, que se consideram “espertos”, recorrem aos pneus remoldados (ou reformados) e, até mesmo, aos pneus “frisados“. Nos dois casos, isso é um grande erro: esses pneus simplesmente não oferecem a segurança necessária à condução da moto.

Pneus remoldados são permitidos para carros, caminhões e ônibus, mas são proibidos nas motos
Crédito: Reprodução da internet

No caso do pneu reformado, a utilização constitui também uma infração da lei. Os pneus “remold” para motocicletas e triciclos são proibidos no Brasil desde 2004, quando a Resolução 158/2004 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) impôs o veto.

Depois, houve até alguma polêmica: em 9 de maio do mesmo ano de 2008, uma deliberação do Contran publicada no Diário Oficial da União (DOU) suspendeu os efeitos da resolução. Demorou, mas outra resolução do Contran – a de nº 376, publicada no DOU em 8 de abril de 2011 – trouxe o bom senso de volta e revogou a suspensão.

Aqui vale destacar que pneu remoldado é diferente de pneu recauchutado. O recauchutado ganha apenas uma nova banda de rodagem e novos ombros na carcaça do pneu. Já no remoldado se faz a troca de toda a banda de rodagem e também dos flancos – ou seja, toda a parte externa do pneu é substituída e ganha uma nova camada de borracha.

No caso dos automóveis e de alguns outros veículos, o uso do remoldado é permitido – e é até melhor que o recauchutado (claro que um novo sempre será melhor). Mas, para motocicletas, nem um, nem outro. O motivo? Os pneus de carros, caminhões e ônibus são “quadrados” e os de moto são “arredondados“.

Na reforma, se raspa a carcaça do pneu usado para que em seu lugar seja colada uma nova banda de rodagem. Nos pneus de moto, não se consegue aplicar perfeitamente o novo composto de forma que reproduza a curvatura e as dimensões originais – o que inclui, aí, ombros, flancos e banda de rodagem como uma “peça” única.

Além disso, os pneus de moto são mais macios e muitas vezes têm compostos diferentes (às vezes, dois ou três compostos) dos usados nos pneus dos outros veículos. As reformas não conseguem reproduzir esses compostos, o que impossibilita que se garanta a segurança necessária do veículo e de seus passageiros durante seu uso.

Infração grave

Como custam a metade do preço de um pneu novo, os remoldados podem parecer atraentes no momento da compra, mas depois o risco de prejuízos é grande. Para começar, seu uso representa infração grave, com cinco pontos na carteira de habilitação e multa de R$ 195,23.

Além disso, há o risco prático, já que os pneus “remold” dão menos estabilidade nas curvas, implicam em maior distância nas frenagens e sempre trazem a possibilidade de formação inesperada de bolhas e rugas, que podem gerar estouros. Aí, é grande a chance de quedas e acidentes.

Se tudo isso não convencer o motociclista, temos mais um argumento: ao contrário de muitos pneus de carros, caminhões e ônibus, os pneus de moto não foram projetados para ter uma “segunda vida”. Isso porque a carcaça, que serve de estrutura do pneu, sofre um desgaste muito grande em sua primeira – e única – utilização.

Os materiais ficam bem finos, o que torna uma raspagem adequada – processo inerente à remoldagem – extremamente difícil. Além das tais rugas e bolhas, surge o risco de o novo material aplicado não aderir corretamente e, assim, logo se descolar durante o uso.

Segundo a Associação dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores e Bicicletas (Abraciclo), 8% dos acidentes com motocicletas são causados por falta de manutenção. E, destes, 11% estão ligados aos pneus da moto.

Pode parecer apenas uma pequena parcela do todo, mas aí vamos para uma outra estatística: segundo números do seguro obrigatório DPVAT, entre 2010 e 2020 cerca de 200 mil pessoas morreram e aproximadamente 2,5 milhões ficaram inválidas para o trabalho por causa de acidentes com motocicletas. Então, podemos calcular algo em torno de 20 mil vítimas de acidentes causados por problemas ligados aos pneus. Não é desprezível.

Definitivamente usar pneu remoldado em moto não vale o risco – além de ser proibido. Essa proibição também deveria ser respeitada por lojistas: basta abrir os sites de vendas de peças e acessórios para ver muitos anúncios de pneus remoldados para motos. É uma das frequentes incoerências brasileiras: não pode usar, mas sempre há quem venda.

E os “frisados”? Pior ainda…

Pior que os pneus remoldados, só os “frisados“. Estes não existem à venda – “nascem” quando o proprietário leva o pneu a um borracheiro e este, com um ferro de solda quente, refaz as ranhuras da banda de rodagem na superfície já totalmente desgastada e fina. Em vez de deitar e rolar com a motoca, quem faz isso é sério candidato a rolar e deitar – de vez.

Vai comprar um pneu novo? Olhe a cera!

Já que explicamos acima que não se deve comprar e nem usar pneu remoldado ou frisado, aproveitamos para lembrar o caro leitor motociclista que, ao comprar um pneu novo, é preciso ter atenção a um detalhe que muitas vezes passa despercebido: a cera!

Todo pneu de moto novo vem com uma camada de cera de proteção. Então, depois de botá-lo na moto, rode bem devagar nos primeiros quilômetros para que a cera saia durante a abrasão com o asfalto. Depois, é só aproveitar: moto com pneu novo parece até uma moto nova!


Foto: Divulgação Internet
Fonte: https://www.webmotors.com.br/wm1/motos/pneu-remoldado-em-moto-pode-ou-nao-pode

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